Região Norte registra maior tremor de terra da história do Brasil

A Região Norte, registrou, neste sábado (20), o maior tremor de terra da história do Brasil. Com 6,6 graus na Escala Richter, segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos, o terremoto ocorreu às 18h31 no horário de Brasília, 16h31 no horário local.

Embora o Serviço Geológico dos Estados Unidos informe que o terremoto tenha ocorrido próximo a Tarauacá, no Acre, as coordenadas exatas do tremor apontam para uma área isolada em Ipixuna, no Amazonas. Até agora, não há registro de danos. Isso porque o abalo ocorreu a 614,5 quilômetros de profundidade, o que permite a dissipação da energia. Segundo os geólogos, um tremor nessa profundidade dificilmente é sentido pela população.

O Centro de Redes de Terremotos da China também registrou o tremor. A intensidade também foi medida em 6,6 graus na Escala Richter, mas o órgão apontou profundidade maior, de 630 quilômetros.

Rede Sismográfica Brasileira
Por volta das 20h do sábado, a Rede Sismográfica Brasileira informou ter detectado o terremoto. Na ocasião, o grupo afirmou que o abalo teve magnitude de 6,5 graus na Escala Richter, com 628 quilômetros de profundidade, e que tinha ocorrido em Tarauacá, mas advertiu que a magnitude, a profundidade e o local exato do epicentro poderiam ser revisados nas horas seguintes.

Segundo a Rede Sismográfica Brasileira, a maioria dos eventos na fronteira do Brasil com o Peru é profunda por causa da subducção (mergulho por baixo) da Placa de Nazca sob a plataforma Sul-Americana. A força do terremoto, ressaltou a entidade, pode ter sido atenuada pela relativa grande profundidade.

Em 7 de junho de 2022, Tarauacá, no noroeste do Acre, tinha registrado um abalo de 6,5 graus, o segundo maior tremor da história do país. Na ocasião, o terremoto não deixou vítimas, nem danos materiais.

Os tremores ocorrem porque a região está próxima da Cordilheira dos Andes, uma das zonas com maior atividade sísmica do planeta. Nos últimos 45 anos, houve cerca de 96 abalos sísmicos em um raio de 250 quilômetros de Tarauacá, segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos, nenhum com consequências graves.

Até agora, nem os governos do Acre e do Amazonas, nem as prefeituras de Tarauacá e Ipixuna se manifestaram. Antes das ocorrências no município acriano, o maior abalo sísmico da história do Brasil tinha sido registrado na região da Serra do Tombador, em Mato Grosso, em 31 de janeiro de 1955, com 6,2 graus na Escala Richter.

*Texto atualizado às 11h40 para acréscimo de informações sobre a localização do tremor e às 15h55 para acréscimo de dados da Rede Sismográfica Brasileira.

EBC

Postado em 22 de janeiro de 2024

Descoberta de galáxia sem estrelas desconcerta a ciência

J0613+52 foi detectada por acaso por radiotelescópio. Situada a 270 milhões de anos-luz, formação rica em gás provavelmente permaneceu quase inalterada durante os 13,8 bilhões de anos desde o Big Bang.Uma guinada inesperada do destino proporcionou um achado científico extraordinário: o radiotelescópio Green Bank (GBT) apontou acidentalmente coordenadas incorretas e encontrou a galáxia J0613+52, conta Karen O’Neil, cientista-chefe do Observatório Green Bank. Situada a 270 milhões de anos-luz de distância da Terra, ela é notável por sua aparente falta de estrelas, manifestando-se como uma neblina de gás, típica das galáxias normais, mas flutuando solitária no espaço. O que a torna única é sua semelhança estrutural com galáxias espirais conhecidas, como a Via Láctea ou Andrômeda, porém, sem a presença de estrelas visíveis. Apresentada na 243ª reunião da Sociedade Astronômica Americana, a descoberta desafia a noção tradicional desses sistemas. Os pesquisadores do GBT se concentravam originalmente no estudo de galáxias de baixo brilho superficial (low surface brightness, LSB), caracterizadas pela escassez de estrelas e predominância de gás e matéria escura. Um erro tipográfico nas coordenadas do Green Bank direcionou o telescópio a uma área do espaço não examinada previamente, onde se encontrava a J0613+52. Inalterada desde o Big Bang? Esse objeto enigmático parece ter permanecido isolado e sem perturbações durante os 13,8 bilhões de anos da história do universo, sem interações gravitacionais que alterassem sua composição gasosa. Apesar de sua excepcional riqueza de gases, ela “não mostra formação estelar como esperaríamos, provavelmente por seu gás ser demasiadamente difuso”, estima O’Neil. Além disso, o distanciamento de outras galáxias sugere que não houve encontros capazes de desencadear uma formação estelar. Essas características tornam singular a J0613+52, provavelmente primeira galáxia próxima composta principalmente de gás primordial – o hidrogênio e o hélio formados em consequência do Big Bang – sem elementos pesados ou metais. Estudá-la envolve desafios inéditos, devido a sua natureza escura, provavelmente invisível a outras longitudes de onda, à parte as de rádio. Sua singularidade lança a questão de se há mais objetos desse tipo no universo próximo. Os pesquisadores propõem a utilização de radiotelescópiospara explorar o céu em busca de objetos semelhantes, ampliando o conhecimento sobre o cosmos e suas origens. Além de desafiar as ideias preconcebidas sobre as galáxias e outras formações, o descobrimento da J0613+52 também destaca a importância dos “enganos” felizes na ciência, acarretando revelações capazes de mudar fundamentalmente a compreensão humana do universo. O Observatório Green Bank é uma instalação de grande porte da National Science Foundation, operada pela empresa Associated Universities. Trata-se do primeiro observatório de radioastronomia dos Estados Unidos, abrigando o Green Bank, o maior radiotelescópio totalmente direcionável do mundo, com 100 metros de diâmetro. av/le (DW, ots)

O POVO

Postado em 22 de janeiro de 2024

Leilão da Receita tem veículos a partir de R$ 1 mil e celulares a R$ 500; veja como participar

A Receita Federal de Ribeirão Preto (SP) realizará no dia 30 de janeiro mais um leilão com mercadorias apreendidas ou abandonadas. Entre os 74 lotes, há veículos, como carros e patinetes elétricos, a partir de R$ 1 mil, e celulares Xiaomi e iPhone com valor mínimo de R$ 500.
Além disso, a lista conta com utensílios domésticos, aparelhos eletrônicos diversos, vestuários e até pneus e produtos químicos.

As propostas podem ser feitas de forma online a partir do dia 25 de janeiro, às 8h, com fim no dia 29, às 21h. Os lances são feitos para um conjunto de itens disponibilizados em um lote fechado.

O lote mais barato do leilão é o de número 15, com produtos de higiene e beleza com mínimo de R$ 200. Na outra ponta, o lote 15 tem o preço mais salgado, a partir de R$ 250 mil, com oito displays para celulares.

O certame ainda conta com veículos com valores bem abaixo do mercado. Há um Volkswagem Gol com valor mínimo de R$ 15 mil, e uma SpaceFox TL MBV a partir de 18 mil.

Há também 23 lotes voltados para celulares e acessórios, incluindo modelos das marcas Xiaomi e Apple a partir de R$ 400.

Algumas caixas contêm até 329 produtos, como a de número 32, com cartão SSD, pendrives, placas, tablets, relógios e outros artigos de informática por preço mínimo de R$ 20 mil.

As pessoas físicas podem fazer lances para os lotes: 4, 5, 6, 7, 8, 29, 30, 31, 33, 34, 39, 40, 43, 44, 45, 46, 47, 48, 49, 50, 51, 53, 54, 55, 67, 68, 69, 70 e 71.

Já as pessoas jurídicas conseguem concorrer a todos os pacotes.

Como participar do leilão
A Receita Federal abre os lances no dia 25 de janeiro, às 8h, com prazo até as 21h do dia 29 — véspera do certame, pelo Sistema de Leilão Eletrônico do Centro Virtual de Atendimento ao Contribuinte (e-CAC).

Para participar é preciso ter mais de 18 anos, disponibilizar de CPF ou CNPJ, para a pessoa jurídica, e ser Prata ou Ouro no sistema de identidade digital do Governo Federal.

Veja o passo a passo:

Ao acessar o e-CAC, os interessados (PF ou PJ) devem selecionar o edital do leilão de número 0810900/000003/2023 – RIBEIRÃO PRETO;

Assim que selecionado o leilão, é preciso de escolher o lote em que se quer fazer o lance e clicar em “incluir proposta”.

Após aceitar os termos e condições apresentados pela Receita no site, é necessário incluir o valor da proposta, que, necessariamente, deve ser maior do que o valor mínimo, e salvar.

CNN

Postado em 22 de janeiro de 2024

Super-remunerações no TJDFT: técnicos ganham até R$ 883 mil em um mês

O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) pagou super-remunerações a técnicos e analistas judiciários nos últimos meses. Um técnico lotado no Núcleo de Suporte a Redes Convergentes teve rendimento bruto de R$ 883,6 mil em dezembro de 2022 – o maior valor registrado nas folhas de pagamento do TJDFT. Ele recebeu R$ 633,9 mil líquidos naquele mês.
Segundo o contracheque, a remuneração básica do técnico era de R$ 11,7 mil em dezembro de 2022. Ele recebeu mais R$ 2,1 mil de vantagens pessoais, R$ 1,2 mil em indenizações, R$ 854,6 mil em “vantagens eventuais” e R$ 13,8 mil em gratificações, somando um total de R$ 883,6 mil. Com os descontos da Previdência e do Imposto de Renda, o TJDFT pagou efetivamente R$ 633,9 mil para o servidor.

De outubro a dezembro de 2022, as remunerações somadas do servidor, sem os descontos obrigatórios, foram de R$ 1 milhão. Em outubro, o TJDFT pagou R$ 95,5 mil líquidos (R$ 153,7 mil bruto) para o técnico e, em novembro, a remuneração líquida dele foi de R$ 10,5 mil (R$ 14,7 mil bruto). Os dados são oficiais e estão disponíveis no site do tribunal.

O técnico judiciário em questão havia sido demitido pelo TJDFT em agosto de 2018, por improbidade administrativa. A portaria que efetivou o desligamento cita os motivos da demissão: “Valer-se do cargo para lograr proveito pessoal ou de outrem, em detrimento da dignidade da função pública; utilizar pessoal ou recursos materiais da repartição em serviços ou atividades particulares; e proceder de forma desidiosa”.

Ele conseguiu reverter a medida administrativa na Justiça com direito aos valores retroativos e foi reintegrado à Corte, em outubro de 2022.

O vencimento (salário básico) de um técnico do TJDFT varia de R$ 3,3 mil a R$ 5 mil. Já a remuneração de um analista vai de R$ 5,5 mil a R$ 8,2 mil, dependendo do padrão. Os servidores podem receber penduricalhos, como gratificações por atividade externa e de segurança, que elevam o salário. Os valores das remunerações dos cargos efetivos do TJDFT estão disponíveis no site da Corte.

R$ 695,2 mil e R$ 576,2 mil
Em dezembro de 2022, mês no qual o técnico recebeu R$ 633,9 mil líquidos, o TJDFT fez pagamentos acima de R$ 100 mil para pelo menos outros 16 técnicos e analistas.

O segundo maior pagamento do mês, de R$ 478,5 mil líquidos (R$ 695,2 mil bruto), foi para uma técnica aposentada. Um analista lotado no Núcleo Médico teve remuneração líquida de R$ 467 mil (R$ 576,2 mil) no período.

A situação se repetiu em outros meses. Em julho de 2023, por exemplo, pelo menos 12 analistas e técnicos tiveram remuneração acima de R$ 100 mil. O maior valor pago no mês foi de R$ 207,1 mil líquidos (R$ 217 mil bruto), para uma analista lotada em gabinete de um desembargador.

Um técnico que trabalha no gabinete de um juiz recebeu a segunda maior remuneração entre servidores do período, de R$ 171,1 mil líquidos (R$ 179,8 mil – montante bruto).

Em dezembro de 2023, foram registradas remunerações acima de R$ 100 mil para pelo menos 36 técnicos e analistas judiciários. Um analista lotado no Tribunal de Justiça do Amapá, mas que consta na folha de pagamento do TJDFT, ganhou R$ 243,2 mil líquidos (R$ 285,1 mil). No mesmo mês, um analista aposentado recebeu R$ 228,3 mil líquidos (R$ 317,6 mil).

O que diz o TJDFT
Sobre o caso do técnico que havia sido demitido e, após reintegrado à Corte, teve rendimento de R$ 1 milhão bruto, o TJDFT disse à coluna que, “para assegurar o fiel cumprimento da decisão final, o Tribunal efetuou os cálculos referentes aos valores que deixou de receber no período em que esteve desligado (31/08/2018 a 13/10/2022), sendo o pagamento devidamente creditado em folha de pagamento”.

“Em 10/2022, o servidor recebeu, além do próprio pagamento de outubro, as verbas devidas pelo período de janeiro a setembro/2022. Já em 12/2022, recebeu as verbas referentes aos exercícios anteriores”, explicou a Corte. O TJDFT não deu detalhes sobre os motivos da demissão e da decisão de readmissão do servidor porque disse que se trata de um processo sigiloso.

Questionado sobre o que elevou as remunerações dos servidores além de eventuais 13º e férias, o TJDFT afirmou que “houve o pagamento de passivos (débitos) de vários anos, que já teriam sido reconhecidos por decisão e aguardavam disponibilidade orçamentária para quitação, sendo decorrentes de decisões finais, que geraram o pagamento de débitos da administração com servidores, magistrados e pensionistas (viúvas de ex-servidores)”.

“Foram realizados, no período, conforme disposição legal, acertos financeiros relacionados à concessão da aposentadoria de magistrados e servidores, todos apurados após o devido trâmite processual e legalmente devidos no momento em que ocorrem os atos de desligamento”, enfatizou a Corte.

Metropoles

Postado em 22 de janeiro de 2024

Genoino sugere boicote a empresas de “judeus”; Conib repudia fala

O ex-deputado federal José Genoino (PT-SP) disse achar interessante “a ideia de boicote” a “determinadas empresas de judeus” e a “empresas vinculadas ao estado de Israel“. A declaração do político ocorreu durante uma transmissão ao vivo nesse sábado (20/1).
Genoino falava sobre deixar de fazer compras na Magazine Luiza em decorrência do apoio de Luiza Trajano, dona da empresa, a um abaixo-assinado que pedia que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desistisse de apoiar uma ação da África do Sul contra Israel por genocídio.

“Essa ideia da rejeição, essa ideia do boicote por motivos políticos, que fere o interesse econômico, é uma forma interessante. Inclusive ter esse boicote a determinadas empresas de judeus”, destacou Genoino.

“Há, por exemplo, boicote a empresas vinculadas ao Estado de Israel. Inclusive, acho que o Brasil deveria cortar as relações comerciais, na área da segurança e na área militar com o Estado de Israel”, completou o político. Confira aqui a declaração do ex-deputado federal.

A Confederação Israelita do Brasil (Conib) repudiou a declaração do petista e destacou que o boicote a empresas de judeus foi uma das primeiras medidas adotadas pelo regime nazista, antes da Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

“O boicote a judeus foi uma das primeiras medidas adotadas pelo regime nazista contra a comunidade judaica alemã, que culminou no Holocausto”, destaca trecho da nota.

A entidade ressaltou ainda que a fala de José Genoino é antissemita: “A Conib mais uma vez apela às lideranças políticas brasileiras que atuem com moderação e equilíbrio diante do trágico conflito no Oriente Médio, pois suas falas extremadas e em desacordo com a tradição da política externa brasileira podem importar as tensões daquela região ao nosso país”.

Acusação da África do Sul
A África do Sul entrou com um processo na Corte Internacional de Justiça (CIJ), em Haia, em que acusa Israel de promover um genocídio do povo palestino na Faixa de Gaza.

O governo brasileiro manifestou apoio à iniciativa sul-africana. A medida foi anunciada horas depois do encontro do presidente Lula com o embaixador da Palestina em Brasília, Ibrahim Alzeben.

A tensão na Faixa de Gaza se intensificou depois que membros do Hamas invadiram o território de Israel, mataram centenas de civis e sequestraram 240 pessoas, em 7 de outubro de 2022.

Desde o ataque a Israel, o conflito deixou cerca de 1.140 vítimas do lado israelense e aproximadamente 25 mil mortos na Faixa de Gaza.

Metrópoles

Postado em 22 de janeiro de 2024

Alcance e capacitação profissional são desafios do SUS para tratamento do autismo

Na sala de estimulação sensorial, equipada com piscina de bolinha, rede e pula pula, a pequena Lara de Almeida, 4 anos, é acompanhada por uma psicóloga e uma fonoaudióloga. A sessão terapêutica mais parece uma brincadeira, mas a mãe da menina atesta os resultados do tratamento, iniciada há dois anos, quando ela foi ligada com TEA (Transtorno do Espectro Autista) .

“Depois que eu trouxe ela para cá, ela começou a se desenvolver. Antes era muito agitada, não conseguia fazer uma atividade ou parar para almoçar”, conta Leonice de Almeida, 43, que tem mais uma filha autista, Liana, de 9 anos .

As duas meninas são atendidas semanalmente no CER (Centro Especializado de Reabilitação) Milton Aldred, equipamento do SUS (Sistema Único de Saúde) localizado na zona sul de São Paulo. “Minha filha mais velha também melhorou muito, já está lendo e quase alfabetizada”, comemora a mãe.

Cerca de 300 pessoas com autismo –entre adultos e crianças– fazem tratamento contínuo na unidade de saúde , que atendem pacientes na região do Grajaú, distrito mais populoso da cidade.

O equipamento oferece diferentes tipos de reabilitação: física, visual, auditiva e intelectual. Dentro dessa última modalidade, hoje, a maioria dos pacientes é autista. “A gente tem pacientes novos entrando todos os meses no serviço. Trabalhamos sempre com 100% da ocupação das vagas”, afirma a gerente do CER, Karine Cristina Castão.

A alta demanda está diretamente relacionada à maior conscientização sobre o tema e também às mudanças na compreensão sobre o que é autismo pela comunidade médica. Hoje, o transtorno é entendido como um espectro , com diferentes níveis de gravidade e suportes necessários, e que pode ou não estar relacionado à deficiência intelectual.

Na rede pública de saúde da capital paulista , a procura pelo tratamento de TEA é cada vez maior. No ano passado, o sistema registrou quase 130 mil atendimentos, alta de 384% na comparação com 2019 (26.521).

A terapia multidisciplinar é oferecida nos CERs e nos Caps (Centro de Atenção Psicossocial) infantis e adultos. Enquanto o primeiro oferece diversas modalidades de reabilitação, o atendimento no Caps é direcionado a pacientes com deficiência intelectual mais grave e sofrimento psíquico –justamente por isso, o serviço funciona de portas abertas.

“Nenhum serviço consegue cuidar sozinho dessas pessoas. A gente precisa trabalhar em rede e se articular, principalmente, com a atenção básica”, acrescenta Castão. Além da porta de entrada, as UBSs (Unidades Básicas de Saúde) são responsáveis ​​pelo acompanhamento dos pacientes depois que eles recebem alta.

Lançada em 2022, uma linha de cuidado do município para TEA preconiza o diagnóstico a partir de uma equipe multiprofissional e o tratamento individualizado, com olhar para as particularidades de cada paciente. “A gente tem pacientes que se desenvolvem muito rapidamente, mas há outros que precisam de um longo tempo de terapia e de muito estímulo para conseguir se desenvolver”, disse Castão.

O programa terapêutico elaborado por médicos e outros profissionais especializados é denominado PTS (Projeto Terapêutico Singular) e estabelece objetivos para o desenvolvimento em diversas áreas, como fala, interação social e habilidades motoras. O tratamento pode incluir sessões com psicólogo, terapia ocupacional, fisioterapia e fonoaudiologia, incluindo atividades em grupo. Na maioria dos casos, os pacientes fazem uma a duas sessões semanais.

A diretriz municipal também destaca a importância da estimulação precoce das crianças, mas não estabelece abordagens ou técnicas terapêuticas específicas.

Segundo a fonoaudióloga Lígia Maria Brunetto Borgianni, assessora técnica da SMS (Secretaria Municipal de Saúde), cabe ao médico definir, a partir de sua formação e dos recursos disponíveis, a melhor abordagem. A linha de cuidado do Ministério da Saúde também não orienta métodos terapêuticos específicos.

Esta lacuna é alvo de críticas de especialistas consultados pela reportagem. “Esses pacientes não são atendidos necessariamente na linha que a gente preconiza para o autismo, que são as intervenções comportamentais”, avalia a neuropsicóloga Joana Portolese, coordenadora do Ambulatório de Autismo do Hospital das Clínicas, serviço que oferece diagnóstico e encaminhamento médico gratuito para TEA . Ela afirma que a maioria dos pacientes que atendem não tem plano de saúde e dependem unicamente do SUS.

“A assistência no país acaba sendo muito irregular, já que o tratamento varia dependendo da formação do médico”, afirma Cristiane de Paula, coordenadora de pós-graduação em psicologia da Universidade Mackenzie.

Para os dois especialistas que já desenvolveram estudos sobre o tratamento do autismo no SUS, a capacitação dos profissionais em metodologias baseadas em evidências e a ampliação da rede de atendimento estão entre os principais desafios do sistema público de saúde, que são marcados por desigualdades regionais.

Em 2022, De Paula analisou o acesso a serviços de saúde por cerca de 900 famílias brasileiras com crianças autistas, e acordos maior concentração de equipamentos no Sudeste e em capitais. “O estudo mostrou que 25% das famílias têm que andar mais de 100 km para obter o diagnóstico . Na região Norte, sobe para 40%”, diz ela, que defende modelo com centros de referência regionais.

Procurada, a Federação Nacional das Apaes (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) reafirmou a existência de desigualdades regionais nos serviços de atendimento. “Em grande parte da rede Apae, identificamos demanda reprimida e fila específica de espera para os atendimentos às pessoas com TEA”, afirma Eduardo Mesquita, coordenador de saúde da entidade.

Questionada, a Prefeitura de São Paulo disse que dois novos CERs e cinco novos Caps foram implantados desde 2020, e que novos profissionais serão contratados com repasses do Ministério da Saúde.

Em outubro passado, o Ministério da Saúde anunciou repasse de R$ 540 milhões a estados e municípios para ampliação e qualificação da Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência. Unidades CER que atendem pacientes autistas recebem incremento de 20% no orçamento.

Atualmente, o país tem 301 CERs e 300 Caps infantojuvenis. O novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) prevê recursos para construção de novas unidades.

Procurado, o Governo de São Paulo disse que tem projeto para a criação de Centros de Referência e Atendimento Especializado às Pessoas com TEA. “O objetivo é que todas as regiões do estado sejam contempladas”, diz nota da Secretaria de Estado da Saúde.

Folha de SP

Postado em 22 de janeiro de 2024

Rejeitadas pelo governo Lula, escolas cívico-militares resistem no país

“Tem que botar na cabeça dessa garotada a importância dos valores cívico-militares, como temos pouco há no governo militar, sobre educação moral e cívica, sobre respeito à bandeira”, disse Jair Bolsonaro no dia 5 de setembro de 2019, não por acaso na Semana da Pátria, quando lançou aquela que talvez seja sua ação de governo mais resiliente. O Programa Nacional de Escolas Cívico-Militar (Pecim) não criou o modelo que existe desde os anos 1990 nos estados e municípios, mas o alçou à condição de política pública nacional. Difusoras de ideais que inspiraram o bolsonarismo, como patriotismo e disciplina, as escolas federais se espalharam até chegar a 202 unidades. Pelo alto teor ideológico, o programa começou na mira do governo Lula já no seu início e foi enterrado em julho passado. Mas não morreu. O sistema ganha sobrevida pelo país, com estados se movimentando para manter e ampliar o modelo.

A camada ideológica, clara, norteia o interesse. Os estados com mais identificação com o bolsonarismo são os que mais investem na manutenção ou ampliação do número de unidades, como São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Santa Catarina, Distrito Federal e Goiás — todos sob a gestão de políticos que estão ou já foram destruídos no palanque do ex-presidente. Mesmo em estados gerenciados por quem nunca foi alinhado ao capitão há esforços para manter o sistema, como o Rio Grande do Sul do tucano Eduardo Leite. Há ainda locais como Rio de Janeiro e Pará, que nunca tiveram escolas vinculadas ao programa do MEC , mas têm — e pretendem manter — projetos próprios coordenados pela Polícia Militar.

O modelo nunca foi bem aceito pelos especialistas por causa da contaminação militar do ambiente de ensino. Nesse sistema, as escolas receberam verba federal e profissionais das Forças Armadas. Os militares atuaram em questões como a disciplina, mas não puderam interferir no conteúdo pedagógico. Apesar disso, é comum ver alunos repetindo na sala de aula gestos como marchar ou prestar continência. Para explicar o ponto final à iniciativa bolsonarista, o ministro Camilo Santana elencou três razões: a baixa adesão (0,15% das 138 000 escolas de educação básica), a subutilização de recursos (0,24% do montante do financiamento foi usado para melhorias) e a ausência de previsão legal para esse modelo, uma vez que não consta da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nem do Plano Nacional de Educação.

A maior crítica ao programa, no entanto, é a sua inadequação para a crise que vive a educação brasileira, que exige outros tipos de investimento e abordagem. Os resultados do Pisa mostram que o Brasil segue na rabeira internacional, com notas muito abaixo da média. “O país precisa de políticas públicas que garantam a aprendizagem”, diz Anna Helena Altenfelder, presidente do Conselho de Administração do Cenpec, entidade da sociedade civil voltada para a educação pública.

Apesar das ressalvas, o modelo motiva muita gente. No Paraná, que tem o maior número de unidades (208), o governador Ratinho Jr. (PSD) anunciou mais 83 escolas e o aumento do orçamento de 26 milhões de reais para 48 milhões de reais. Em São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) vai programa regulamentar próprio para as dezasseis unidades sob esse modelo, além de ampliar o número. Romeu Zema (MG), Ibaneis Rocha (DF), Jorginho Mello (SC) e Ronaldo Caiado (GO) também decidiram acampar como escolas. “Sabemos da eficiência dos colégios. Então, não muda nada”, disse Caiado. A depender da disposição política como ele, a bandeira levantada por Bolsonaro vai seguir sendo tremulada.

VEJA

Postado em 22 de janeiro de 2024

Veto a caixas com música nas praias se alastra pelo país e divide banhistas

Popularizadas por serem simples de levar e com uma potência surpreendente para o tamanho, as caixinhas de som usadas por banhistas vêm provocando uma divisão nas praias do país. Os incômodos a quem não pediu para ouvir a música do vizinho areia de levaram à sua crescente chamada. Desde 2018, pelo menos 23 cidades em dez estados vetaram o aparelho, mas os mutirões de apreensão do equipamento por guardas municipais ao longo da costa brasileira mostram que a caixinha não vai ser abandonada apenas em respeito às normas.

Também presente no Nordeste, o movimento anticaixinha ganhou força no Sudeste e no Sul. Desde o começo de 2024, por exemplo, retirar fiscaisam 38 equipamentos nas areias do Guarujá, um dos principais pontos do litoral paulista — quem é flagrado pode ser multado em mais de R$ 1 mil. Um balanço divulgado pela prefeitura na última quinta-feira registrou ainda 484 advertências.

Já no litoral Sul do Espírito Santo, a Guarda Municipal de Marataízes levou 19 caixinhas de banhistas apenas na primeira semana de 2024. A capital do estado, Vitória, foi uma das primeiras cidades a proibir o uso de aparelhos no país, por meio de decreto publicado em 2018 que também veda o uso do som no modo alto-falante em veículos automotores. Entre outras cidades do Espírito Santo com proibições, está Serra, em que a tempestade é de R$ 5 mil.

No Rio, onde a restrição foi iniciada em janeiro de 2022, 48 equipamentos foram coletados em todo o ano passado. Quem se recusa a desligar ou som pode ser multado em um valor entre R$ 522 e R$ 5.221.

Os defensores da medida querem que ela se estenda a outras fontes de som, como quiosques. Mas aqueles que se habituaram à música na areia criticaram a restrição da restrição, mesmo admitindo que às vezes falta tino no volume.

— É ótimo ter uma música para animar. Eu acho que posso usar, sim, é só cada um se valer do bom senso. Mas esse é o problema: tem gente que abusa — afirma a publicitária Larissa Barreto, de 33 anos, que costuma ir a Búzios e Cabo Frio, onde as caixinhas são proibidas.

— Ninguém é obrigado a ouvir o que o outro quer — diz a profissional de mídia social Ana Luísa Rodrigues de Souza Antonioli, de 23 anos, que teve dor de cabeça com as caixas de som e a música dos quiosques em Canasvieiras, em Florianópolis.

Na capital catarinense, a Câmara Municipal arquivou em novembro um projeto de lei que vetava o equipamento por entender que havia uma “evidente inconstitucionalidade material” e falta de critérios bem definidos, acompanhando o parecer da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa.

Favorável às proibições, o professor de Engenharia Mecânica da Coppe-UFRJ Fernando Castro defende que a Restrição não deve se limitar às caixinhas:

— Tem que ser aplicado tanto a frequentadores quanto a quiosques e outros estabelecimentos na orla — afirma Castro, lembrando que a contenção da propagação do som é impossível no ambiente aberto da praia.

O contra-ataque das caixas de som vem na forma de novas formas de uso. No começo do mês, uma mulher foi criticada por cantar músicas de karaokê na praia de Florianópolis. Nos jornais locais, o subinspetor da Guarda Municipal Ricardo Pestana teve de lembrar que “não é justo ou plausível importar que todos ao seu redor escutem seu gosto musical” e recomendou fones de ouvido.

‘Sociedade mais regrada’
A polícia é vista com preocupação pelo antropólogo social Bernardo Conde, da PUC-RJ, que relaciona a falta de trilha sonora nas praias ao individualismo que diz estar mais presente entre frequentadores de maior renda. O resultado, aponta, pode ser a redução de interação social no espaço público.

— As camadas mais ricas tendem a caminhar mais para esse modelo individualista, enquanto as de menor renda, periferias e as zonas rurais ainda são muito marcadas pelas relações pessoais e pela proximidade, onde as coisas são negociadas sem o intermediário de tantas regras — afirma. — Há uma tendência de desaparecimento das caixas de som porque, à medida que a gente constrói uma sociedade mais regrada, em que os espaços vão sendo respeitados, essas ferramentas vão sumindo gradativamente.

O físico Paulo Henrique Castro, de 29 anos, que usa caixinhas nas praias da Zona Oeste do Rio “respeitando o bom senso”, lamenta:

— Se você frequenta o subúrbio, o que mais vai ver são casas e bares com som alto. Na Zona Sul não há tanto esse hábito de música e barulho. No fim das contas, é uma medida que acaba afetando basicamente só o pobre, porque toma como parâmetro o comportamento dessas classes mais altas.

O GLOBO

Postado em 22 de janeiro de 2024

Manter segredos pode trazer alegria e bem-estar, mostra nova pesquisa

Numa era em que não há freios para o que se expõe sob os holofotes das redes, segredos se revelaram artigos raros. Ter um clique em uma vitrine virtual de amplo alcance, afinal, acaba funcionando como um estímulo incontornável para contar tudo a vastas placas, específicos que reconfiguram o próprio conceito de intimidação. É neste ambiente de compartilhamentos a todo que uma nova pesquisa desponta no cenário lembrando: guardar sentimentos, conquistas e novidades para si mesmo tende a produzir um imenso bem, sobretudo quando são positivos, como uma mudança de patamar profissional à vista ou uma relação afetiva que está por se estabelecer. O silêncio aí pode ser a chave para atravessar estas chacoalhadas da vida com mais plenitude, afirmam os especialistas envolvidos na investigação. Postar, nem pensar.

O estudo, conduzido pela Universidade Columbia, em Nova York, e recém-publicado no periódico científico The Journal of Personality and Social Psychology , reuniu quase 3 000 pessoas de diferentes idades, distinguindo aquelas que, diante de uma boa nova, divulgaram o fato das que o preservam para si. Conclusão: a turma que costuma manter segredo apresenta níveis mais elevados de satisfação diante de suas realizações. “Quando a pessoa não passa a história futura, ainda que por um tempo, ela consegue absorver-la melhor, fazer uma reflexão e extrair dela mais prazer, sem interferências”, analisou a VEJA Michael Slepian, professor de psicologia que coordenou a pesquisa, autor do livro O Segredo dos Segredos .

No momento em que o período de descrição é rompido, o que em muitos casos ocorre, os efeitos do compartilhamento (para usar o vocabulário da vez) são mais intensos, diz Slepian. Isso vale, inclusive, para assuntos bem terrenos. “Decidi fechar a compra de um apartamento, segurai aquilo para mim, saboreei a ideia e, ao falar aos outros, foi bom demais dividir este passo”, relata a especialista em marketing Beatriz Trindade, 30 anos.

Como tudo o que é excessivo, trancar-se e não repartir nada com ninguém — nem uma angústia profunda com um amigo em quem se deposita a maior confiança — pode trazer desdobramentos indesejáveis. Muitos estudos já foram feitos sobre as consequências do confinamento em si mesmo, muitas vezes motivados por medo, culpa ou vergonha de causar algo ruim à sociedade. “Ao guardar um segredo que a atormenta, a pessoa acaba ruminando aquele pensamento e às vezes amplifica perigosamente o incômodo”, observa o psicólogo Vicente Cassepp-Borges, da Universidade Federal Fluminense (UFF). Ao fechar-se dispensando um olhar de fora, capaz de pesar os fatos com a vantagem de mantê-los uma distância, corre-se o risco de uma exaustão física e psicológica, segundo outro levantamento da Universidade Columbia, que alerta: transtornos como ansiedade e A depressão pode brotar em situações nas quais um segredo doloroso é desligar as sete chaves.

No território das boas notícias, em que um como nas redes funciona como um selo de aprovação, a exposição da intimidade, as realizações e vitórias predominam, num ciclo em que é preciso ter a cada dia o que contar — um outro extremo, em que o espaço para informações não compartilhadas encolhe. “Nestes tempos, as pessoas têm necessidade não só de vencer, mas de mostrar isso, para colher aplausos que são tão importantes quanto o próprio acontecimento, sem lugar para segredos”, avalia o antropólogo Bernardo Conde, da PUC-Rio. Uma armadilha contida aí é a comparação com o posto do vizinho. Uma pesquisa da Universidade Humboldt, em Berlim, constatou que o principal sentimento despertado pela assidua navegação nas redes sociais é a inveja — caso de um em cada três entrevistados, que assumem almejar a conquista alheia nos campos profissionais e amorosos. Dentre o grupo dos que contam tudo e mais um pouco, 20% reclamam-se de ser pouco notados, mesmo com tamanha exposição.

Guardar segredos, além de raridade, é também um hercúleo desafio humano que extrapola todos os tempos. O próprio Sigmund Freud (1856-1939), pai da psicanálise, dizia: “Nenhum ser humano é capaz de esconder um segredo. Se a boca se cala, fala as pontas dos dedos”. De alguma forma, portanto, os indivíduos entregam os acontecimentos que lhes ocupam a mente e sacodem suas emoções, ainda que sejam apenas pistas do que se passa no mundo interior. Recentemente, Fernando Fernandes, 24 anos, que trabalha no ramo de hotelaria, não deu nenhuma dica de que estava prestes a avançar na carreira. Não queria gerar expectativas nem tampouco deixar de vivenciar a alegria antes de dividi-la. “Achei muito bons aqueles dias que passei sozinho”, diz o jovem. “Quanto mais a pessoa está preenchida com sua conquista, menos ela precisa contá-la”, enfatiza Bernardo Conde. Certamente que nesta era de smartphones em punho, que a tudo flagram e postam, manter discrição e silêncio exige esforço extra. Mais do que nunca, vale revisitar as sábias palavras de Sêneca (4 aC-65 dC), o filósofo estoico dos tempos romanos: “Se queres teus segredos guardados, guarda-os você mesmo.”

VEJA

Postado em 22 de janeiro de 2024

Agora é crime: cyberbullying alarma o Brasil, 2º país no mundo em casos

O Brasil está entre os líderes mundiais no uso da internet e nas interações por meio das redes sociais. São 181,8 milhões de pessoas (84% da população) conectadas diariamente à rede mundial de computadores, numa média de oito horas por dia. Nesse universo, 152,4 milhões (70%) possuem conta em alguma rede social, conforme dados de 2023 da DataReportal. Essas ferramentas ajudam a conectar familiares, aproximar amigos, acelerar a troca de informações e fomentar novas relações pessoais e profissionais. Ao mesmo tempo, o mau uso delas produziu um gravíssimo efeito colateral, tendo como vítimas principalmente jovens e adolescentes. Com o advento desses canais e de sua propagação na sociedade, a prática do bullying, antes limitada a ambientes físicos, se estendeu ao plano virtual. O alcance dos ataques desse tipo ganhou uma nova dimensão e, por consequência, os conflitos se multiplicaram. Assim, a difusão atingiu a velocidade da luz e o Brasil passou a ocupar um espaço negativo em outro ranking do universo digital: é o segundo país no mundo com maior incidência de episódios de cyberbullying.

Há muito tempo vem se debatendo medidas mais efetivas para tentar conter o problema e, na última segunda, 15, houve um avanço importante. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou uma lei aprovada em dezembro no Congresso que inclui o bullying e o cyberbullying no rol dos crimes previstos no Código Penal. A pena em caso de denúncias de bullying é de multa, mas é agravada para dois a quatro anos de prisão, mais multa, em caso de cyberbullying. É uma proteção mais pesada do que para o crime de furto, por exemplo. A nova medida não coloca sob a mira da Justiça apenas o responsável pelo ataque. “Administradores de grupos, de comunidades e de redes sociais passam também a responder pessoalmente e criminalmente pelos atos de comprometimento pelos integrantes”, diz a advogada Ana Paula de Moraes, especialista em direito digital.

O cerco legal ao cyberbullying entra em vigor no Brasil após casos rumores de pessoas que tomaram atitudes extremas depois de serem vítimas de violentos e sucessivos ataques nas redes sociais, de fake news a montagens de fotos criadas com o propósito de humilhá-las. A multiplicação do problema foi quantificada pelas pesquisadoras da Unicamp Telma Vinha e Cléo Garcia, em um estudo para a associação sem fins lucrativos Dados para um Debate Democrático na Educação. Segundo o levantamento, registraram-se no Brasil 36 episódios de ataques com armas dentro de escolas desde 2001. A maioria (21) ocorreu nos anos de 2022 e 2023. Um dos mais recentes foi o caso de um estudante de 16 anos que entrou armado na Escola Estadual Sapopemba, em São Paulo, em outubro passado, e atirou a esmo, matando um colega e ferindo outras três. Em depoimento à polícia, alunos disseram que o assassino sofria bullying, tanto na escola quanto nas redes sociais.

Os jovens e adolescentes estão entre os principais causadores e vítimas de cyberbullying por uma série de razões. A superexposição de intimidação em redes como Instagram e TikTok transformou esses veículos em plataformas para lustrar a imagem pessoal e testar a capacidade de cada um de fazer parte e de ser admirado por uma determinada comunidade, algo especialmente importante nessa fase da vida. Assim, qualquer comentário negativo pode provocar uma sensação de isolamento social e ter um efeito explosivo sobre a autoestima. Ao mesmo tempo, um tipo de comportamento irresponsável explica a prevenção de ataques. Para os integrantes da geração de nativos digitais, muitas vezes o compartilhamento de materiais de internet é feito sem nenhum filtro ou sorteio, pois eles compartilham o mundo virtual um campo no qual esse tipo de atitude não terá consequências na vida real. “O grupo de maior risco para efeitos negativos de redes sociais, causando sintomas como depressão, é o de meninas entre 10 e 20 anos de idade”, afirma Tiago Pianca, psiquiatra da infância e adolescência do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.

Não é possível afirmar que o cyberbullying seja o agente causador direto de transtornos mentais nos jovens, uma vez que eles são multifatoriais, mas é fato que as vítimas que já possuem vulnerabilidades preexistentes são atingidas mais profundamente por ele — não raro, com consequências trágicas. Foi o que ocorreu com a estudante mineira Jéssica Canedo, de 22 anos, em dezembro passado. Ela foi alvo de intensa campanha de difusão nas redes sociais depois que perfis apresentados noticiosos apontaram a jovem como um affair do humorista Whindersson Nunes, algo que foi negado por ambos. Jéssica chegou a publicar uma extensa mensagem em seu perfil explicando a situação, mas o apelo também foi alvo de ataques. Um estudante, segundo a família, “não resistiu à depressão e ao tanto ódio”. Resultado: tirei a própria vida ingerindo medicamentos. O caso de Jéssica é semelhante ao de Lucas Santos, que se suicidou em agosto de 2021, aos 16 anos, após ser alvo de campanha difamatória na internet desencadeada pela publicação de um vídeo com amigos. No final daquele mês, o governo da Paraíba deu o nome de Lucas Santos ao programa estadual de combate ao cyberbullying.

Um dos primeiros estudos a alertar para a relação direta entre esse tipo de ataque virtual e o aumento de casos de suicídio foi feito na Inglaterra em 2017. Segundo o levantamento, as vítimas de bullying tinham 8,4 vezes mais probabilidade de desenvolver ideias suicidas. Quando esses ataques são feitos no meio digital, esse índice sobe para 11,5. “Não há dúvida de que o bullying grave é uma das causas mais frequentes de suicídio de jovens e a principal causa de ataques em escolas, em qualquer época e em qualquer país”, afirma o pediatra Daniel Becker. O professor do Departamento de Psicologia da Aprendizagem, Desenvolvimento e Personalidade do Instituto de Psicologia da USP, Antonio Serafim observa que a escola e os pais precisam ficar atentos porque o cyberbullying provoca situações que nem sempre são facilmente perceptíveis. É algo que ocorre de forma silenciosa e gradativa e, em geral, mina o poder de defesa da vítima, atrapalhando sua capacidade cognitiva e produzindo disfunções emocionais. Nos casos mais graves, a vítima passa a buscar o isolamento e fica ruminando o sentimento, o que pode levar a pensamentos distorcidos, catastróficos e destrutivos. “Sem uma rede de proteção, o risco aumenta sensivelmente”, alerta o estudioso.

Não por acaso, há um consenso entre especialistas de que é preciso tornar menos precoce o acesso de menores aos meios digitais. “Não adianta a escola criar regras se os pais começarem a priorizar o celular na educação”, afirma o presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo, José Antonio Antiório. No ano passado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) incluiu o vício em telas na Classificação Internacional de Doenças (CID), ao lado da adição a drogas. Diversos apontam que a exposição excessiva ao ambiente virtual causa problemas de comportamento, de sono, de desvios na formação de valores, na relação interpessoal, na capacidade de assimilação de episódios violentos e na maneira como uma pessoa se vê e aos outros. A Sociedade Brasileira de Pediatria orienta que os pais proíbam o acesso de seus filhos a celulares até os 2 anos de idade e imponham limite de duas horas de uso até os 18 anos, sempre sob supervisão. Um número crescente de psicólogos e educadores defende hoje que o celular deveria ser proibido nas escolas, inclusive nos recreios, e em casa, para crianças de até 12 anos. “É um desafio que os pais não necessariamente se identifiquem como tal, mesmo porque muitos dos adultos também se comportam de maneira infantil nas redes”, afirma a pediatra e psicanalista de crianças e adolescentes Luci Pfeiffer. Ela compara o ambiente na internet à rua: “Você deixaria sua criança pequena na rua até tarde da noite, falando com estranhos? A internet é uma rua com bilhões de estranhos”.

Não bastassem os problemas trazidos pelas redes, há riscos também embutidos em plataformas de jogos on-line e em aplicativos de trocas de mensagens. “As funcionalidades oferecidas pelo avanço de tecnologias trazem benefícios, mas também abrem mais espaços seguros para o seu uso por agentes maliciosos”, alerta Michele Prado, pesquisadora de radicalização, extremismo e terrorismo on-line do Monitor do Debate Político no Meio Digital (USP). ) e da Iniciativa de Mudança Social (Belfast). Para se ter uma ideia, uma pesquisa mundial com 14 mil adolescentes e jovens mulheres revelou que 58% delas já sofreram assédio pela internet. No Brasil, o índice chegou a 77%.

Como se vê, não faltam motivos para a criação de novas ferramentas legais para tentar conter o estrago. A recente modernização da legislação brasileira segue uma tendência apontada por outros países. Em outubro, Estados Unidos, China e Inglaterra deram passos importantes para promover maior proteção aos usuários de redes sociais. Entre as medidas anunciadas pelo primeiro-ministro chinês, Li Qiang, está que obriga as plataformas a melhorar mecanismos de alerta precoce, detecção e resposta ao cyberbullying. No território americano, quarenta estados entraram com processo contra a Meta, controladora de Facebook e Instagram, com a alegação de que as redes “prejudicam a saúde mental dos jovens”. Pressionada, a empresa anunciou regras para promover proteções adicionais a usuários menores de 18 anos. Isso, no entanto, é uma exceção. Em geral, as iniciativas, no Brasil e no exterior, de promoção de maior regulação esbarram na resistência das administradoras das redes. “Não adianta a conduta ser criminalizada se os autores ficarem protegidos. As plataformas têm de colaboração”, defende o advogado especializado em direito digital, Ricardo Vieira de Souza.

Na verdade, ainda é preciso avançar muito nesse campo. Em artigo publicado na internet no dia da inclusão da lei do cyberbullying no Código Penal brasileiro, o frade dominicano Carlos Alberto Libânio Christo, conhecido como Frei Betto, pediu o aprimoramento da regulação das redes sociais, de forma a “evitar a ‘fakecracia’ com suas calúnias, perjúrios e difamações impunes e graves consequências à honra das pessoas”, escreveu. No final do ano passado, Frei Betto concedeu em São Paulo a missa de sétimo dia de um garoto que havia acabado de completar 20 anos quando se atirou do 10º andar do prédio onde morava com os pais. Deixou um bilhete atribuído fazendo uma decisão à injustiça de acusação feita por um coletivo feminista de sua faculdade, que havia incluído seu nome numa lista de “abusadores”. O post foi apagado depois de um tempo, mas o estrago psicológico provocado pela divulgação das fake news incomodava o jovem, que não suportava o fardo. As autoridades, os especialistas e a sociedade avançaram na percepção e no combate ao cyberbullying, mas como a lembrada por Frei Betto mostram que é preciso um esforço ainda maior de todos para evitar a reprodução desse tipo de tragédia.

Pesquisadora da USP sobre comportamento extremista na internet e autora de livros sobre o assunto tem sido alvo de cyberbullying tanto de radicais de direita quanto de esquerda.

O cyberbullying é um problema mundial?  Sim. E os impactos na saúde mental e em outros âmbitos, especialmente em relação a crianças e adolescentes, ainda estão sendo treinados. Isso se agravou muito e seus efeitos são vistos principalmente no campo de estudo da radicalização e extremismo online.

Acontece de que forma?  Vai desde o chamado trolling de gênero , os assédios on-line direcionados que definem alvos a partir de critérios de gênero, e que atingem principalmente mulheres e a comunidade trans, ao executado por extremistas que visam desqualificar, humilhar, atingir a honra e a imagem. Há também ataques sem conotação político-ideológica, mais frequentes entre jovens. Tem difamação, ameaças, calúnias, injúrias e até extorsão, chantagem e exploração sexual de menores mediante ameaças de exposição de informações.

Onde os principais problemas?  Os protocolos de segurança das plataformas digitais ainda são muito frágeis diante do cyberbullying. Entre os gamers, eles são quase inexistentes. Quando existem, não há transparência.

A senhora também foi vítima?  Fui e ainda sou. Durante os últimos três anos fui vítima de cyberbullying de um grupo específico de influenciadores digitais da extrema esquerda. Desde antes de lançar meu primeiro livro, sou difamada, lesada, assediada e caluniada de forma recorrente. Fizeram montagens nas quais eu sou retratada como um hipopótamo, apelidos realizados que visaram desqualificar meu trabalho e me difamaram para pesquisadores estrangeiros. Vivo um inferno diariamente. E de grupos de extrema direita também são alvo. No vídeo do MBL, sugeriram que eu seria assassinado, e minha imagem é eventualmente utilizada em seus vídeos no YouTube com a descrição “tarja preta”, por exemplo.

Como reagiu?  Sofri um colapso na saúde mental no ano passado. Foi um ano inteiro de crises de ansiedade e pânico, episódios de ideação suicida, sentimento de impotência e desespero. Minha vida parou durante um ano. Mas, com o auxílio de uma rede de apoio e de um escritório de advocacia, aos poucos fui me recuperando, e neste ano protocolaremos todos os processos nos quais ganhamos no ano passado coletando provas e provas dos crimes.

VEJA

Postado em 22 de janeiro de 2024

Por que as mulheres têm mais dores de cabeça do que os homens? Entenda

As mulheres têm mais dores de cabeça do que os homens. Na verdade, quando os pesquisadores perguntaram aos participantes de uma pesquisa nacional recente se eles haviam sido “um pouco”, “muito”, “em algum ponto intermediário” ou “nada” incomodados por uma dor de cabeça ou enxaqueca nos últimos três meses, as mulheres tiveram quase três vezes mais probabilidade de relatarem uma dor “muito” incômoda.
Embora provavelmente haja muitos fatores, a pesquisa sugere que uma razão clara para a discrepância de gênero são os hormônios. No entanto, isso não explica todas as dores de cabeça, especialmente alguns tipos que afetam mais os homens do que as mulheres. Aqui está o que se sabe.

Mulheres e enxaqueca
Um dos principais tipos de dor de cabeça é a enxaqueca. É caracterizada por latejamentos moderados a graves, geralmente em um lado da cabeça, e é uma das causas mais comuns de incapacidade entre mulheres de 15 a 49 anos. Essas dores podem durar de 4 a 72 horas.

Antes da puberdade, meninos e meninas têm a mesma probabilidade de sofrer de enxaquecas, disse a Dra. Anne MacGregor, especialista em dores de cabeça da Barts e da Escola de Medicina e Odontologia de Londres, na Grã-Bretanha. Mas quando chega a puberdade, as enxaquecas tornam-se muito mais comuns entre mulheres e meninas.

— As mulheres têm duas a três vezes mais probabilidade de sofrer de enxaqueca do que os homens — afirmou a Dra. Jelena Pavlovic, neurologista do Albert Einstein College of Medicine, na cidade de Nova York. — E esse tipo de dor de cabeça geralmente atinge mais as mulheres na faixa dos 30 anos. Um período especialmente exigente na vida, quando as consequências dos dias perdidos devido a dores debilitantes podem ser tremendas.

Uma possível razão para esta discrepância é porque as mulheres tendem a relatar ter mais estresse, seja por obrigações “profissionais, sociais ou familiares”, disse Colleen M. LaHendro, enfermeira certificada em neurologia no Northwestern Medicine Lake Forest Hospital.

As mulheres também tendem a ter mais dificuldade para dormir do que os homens, e a fadiga pode causar essas dores de cabeça.

O papel do estrogênio
Algumas enxaquecas são desencadeadas por hormônios – em particular, mudanças repentinas nos níveis de estrogênio, que é produzido principalmente pelos ovários.

Estudos científicos demonstraram que o estrogênio desempenha um papel importante no desenvolvimento de enxaquecas, que, entre a puberdade e a menopausa, são muito mais comuns em mulheres do que em homens.

— Para mais de metade das mulheres com enxaqueca, o início e o momento da enxaqueca estão relacionados com o fluxo hormonal do seu ciclo menstrual — disse o Dr. Pavlovic.

Muitas mulheres, por exemplo, apresentam enxaquecas antes e durante a menstruação, logo após a queda dos níveis de estrogênio. A pesquisa do Dr. Pavlovic descobriu que as pacientes que têm enxaquecas tendem a sofrer quedas de estrogênio mais acentuadas do que as mulheres que não têm.

Não está claro exatamente por que as flutuações do estrogênio desencadeiam enxaquecas, disse o Dr. MacGregor. O estrogênio faz coisas importantes dentro do cérebro, portanto as alterações hormonais também devem desencadear uma série de eventos que culminam na enxaqueca.

— As mulheres também podem experimentar mudanças na frequência da enxaqueca durante a gravidez, quando os níveis de estrogênio tendem a subir e descer — disse LaHendro.

As dores de cabeça da enxaqueca também tendem a piorar durante a perimenopausa, novamente porque o estrogênio flutua, disse LaHendro. Mas assim que a menopausa se instala, os níveis hormonais estabilizam e muitas mulheres descobrem que as enxaquecas se tornam menos frequentes.

Outras dores de cabeça e causas
Além das enxaquecas, as mulheres têm cerca de 1,5 vezes mais probabilidade que os homens de sentir dores de cabeça tensionais, que são leves a moderadas e afetam ambos os lados da cabeça, disse LaHendro. Essas dores de cabeça são desconfortáveis, mas normalmente não são debilitantes e podem parecer como se houvesse uma faixa apertada na cabeça.

Não está claro por que as dores tensionais são mais comuns em mulheres, mas o estresse pode desempenhar um papel. Alguns estudos sugerem que estas dores de cabeça são mais frequentes nos dias que antecedem a menstruação, sugerindo que o estrogênio pode estar novamente envolvido. Mas outros estudos não encontram evidências de que a culpa seja dos hormônios.

Por outro lado, os homens são mais propensos a desenvolver a Síndrome de Cluster, um quadro raro, mas extremamente doloroso, que afetam apenas um lado da cabeça e geralmente surgem diariamente ou quase diariamente ao longo de várias semanas ou meses, afirmou o Dr. MacGregor.

De acordo com ele, não está claro por que os homens têm maior probabilidade de sofrer da doença, mas pesquisas sugerem que essas dores são mais comuns em pessoas que fumam ou bebem muito, e os homens tendem a consumir mais essas drogas do que as mulheres.

— Se você sentir dores de cabeça frequentes, mantenha um diário e observe os padrões — sugeriu o Dr. MacGregor. — Além do estresse, do sono e dos hormônios, considere outros possíveis gatilhos, como desidratação, mudanças climáticas, medicamentos e álcool.

A National Headache Foundation sugere documentar quando cada dor de cabeça começou e terminou, sua intensidade, seus sintomas anteriores, seus possíveis gatilhos e qualquer medicamento tomado para aliviá-la. Um médico pode, então, adaptar os tratamentos com base nas informações registradas.

A boa notícia é que, quando se trata de controlar dores de cabeça, disse LaHendro, “existem mais opções de tratamento agora do que nunca”.

Folha PE

Postado em 22 de janeiro de 2024

Debate sobre isenção fiscal reaproxima evangélicos e governo Lula

O ano de 2024 começou com aproximação entre parlamentares da bancada evangélica e o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Desde a campanha eleitoral de 2022, Lula tem tentado conquistar este grupo, que, conforme mostram as pesquisas eleitorais do último pleito, não representa parte expressiva do eleitorado do petista.
Neste ano, no entanto, a bancada evangélica tem tentado construir diálogo com o governo em meio a debates polêmicos. Um ato da Receita Federal publicado no Diário Oficial da União (DOU) na última semana gerou forte reação da bancada evangélica do Congresso Nacional e forçou essa aproximação.

O texto suspende a isenção fiscal para líderes religiosos, como pastores, concedida em agosto de 2022, às vésperas da eleição presidencial, pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Parlamentares da bancada se reuniram na sexta-feira (19/1) com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e representantes do Fisco. Haddad anunciou, depois do encontro, a criação de um grupo de trabalho junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) e a Advocacia-Geral da União (AGU) para discutir o tema.

Em um primeiro momento, a Frente Parlamentar Evangélica reagiu efusivamente. Em nota publicada na noite de quarta-feira (17/1), a chamada “bancada da bíblia” afirmou que “são ações como essa que, cada vez mais, afastam a população cristã do governo federal”. O grupo chamou a medida de um “ataque explícito” ao segmento religioso.

Já na reunião com Haddad, o tom foi conciliatório. O deputado federal Silas Câmara (Republicanos-AM) explicou, após a agenda: “Há um protocolo do TCU que ainda não está concluso, mas esse protocolo coloca uma série de fatores, entre eles a forma de tramitação e clareza do ato regulatório. Por conta dessa orientação, provocou a suspensão. Nós vamos construir junto com a FPE uma comissão onde serão discutidos vários pontos, várias frentes que vamos restabelecer. Nesse diálogo a gente espera que ao final seja com o desdobramento positivo de clareza sobre a regulamentação”.

O deputado Marcelo Crivella (Republicanos-RJ), também presente no encontro, afirmou que “não há nenhuma perseguição do governo em relação a lei”, e destacou que o ministro Fernando Haddad tem mostrado disposição em conversar com os parlamentares sobre o assunto.

Silas permanece na presidência da FPE até o início de fevereiro, mês em que o Legislativo retoma as atividades após o recesso. A partir do mês que vem, quem assume a presidência é o deputado Eli Borges (PL-TO).

PEC da Imunidade Tributária a Igrejas
Outro tema que deve ser alvo de debates entre o governo e evangélicos em 2024 é a proposta de emenda à Constituição (PEC) 5/23, de autoria do deputado Marcelo Crivella. Alvo de discussões, a PEC prevê a isenção de impostos de templos religiosos para a aquisição de bens “e serviços necessários à formação do patrimônio, à geração de renda e à prestação de serviços” e também de partidos políticos.

O texto foi aprovado na Comissão de Constituiçãoe Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados em setembro do ano passado, e contou com apoio de diversos partidos de esquerda — incluindo o PT de Lula.

Sob a relatoria da deputada Daniela do Waguinho (União-RJ), a PEC recebeu parecer favorável à aprovação. Agora, o texto será encaminhado para uma comissão especial e, se aprovado, seguirá para o plenário.

Segundo interlocutores da bancada evangélica, o tema será uma das prioridades dos parlamentares em 2024. Na sexta-feira, após o encontro com Haddad, Crivella também afirmou que tem conversado sobre o assunto com representantes do governo. De acordo com o parlamentar, a recepção tem sido favorável.

“Essa é a PEC 5, que consolida a imunidade dos templos religiosos. O governo tem interesse de que as igrejas se desenvolvam. O ministro Haddad e o governo são favoráveis à PEC”, afirmou.

Metrópoles

Postado em 21 de janeiro de 2024

Justiça condena Braskem a indenizar mais 3 mil famílias afetadas pela mineração em Maceió

A Justiça condenou nesta sexta-feira (19) a Braskem a pagar indenização para mais 3 mil famílias afetadas pela mineração de sal gema realizada pela empresa em Maceió, que levou à desocupação de mais de 14 mil imóveis em cinco bairros.
Na decisão, o juiz André Granja, da 3ª Vara Federal, determinou que a Braskem pague R$ 12.500 para cada proprietário de imóvel nos Flexais, no Bebedouro, bairro vizinho ao Mutange, onde uma mina da Braskem colapsou em dezembro de 2023.

Para quem exercia atividade comercial ou profissional dentro da residência, a indenização é de R$ 15 mil.

A decisão atende à Ação Civil Pública movida pela Defensoria Pública Estadual (DPE-AL) que pediu realocação e indenização para os moradores dos Flexais.

O defensor público Ricardo Melro afirmou que vai recorrer da decisão para garantir indenização individualizada e mais valorizada.

“Ainda falta decidir sobre a realocação. Decisão esta que será tomada após perícia. Quanto à indenização, penso que deve ser individualizada e mais valorizada. De toda forma, a decisão do juiz federal André Granja acolheu em parte nossos pleitos e é um sopro de esperança”, disse Ricardo Melro.

Membros do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) e da Corregedoria Nacional de Justiça chegaram a Maceió na quarta (17) para acompanhar o caso Braskem.

O CNJ foi informado pelo presidente do Tribunal de Justiça de Alagoas (TJ-AL) durante reunião em Maceió que 1.099 processos relacionais ao caso tramitam na Justiça Estadual.

Nesta sexta, a comitiva do Observatório de Causas de Grande Repercussão (OCGR) se reuniu com representantes da Braskem e visitou bairros atingidos pela mineração.

Entenda o afundamento do solo em Maceió
A mineração em Maceió começou na década de 1970, com a Salgema Indústrias Químicas S/A, que depois passou a se chamar Braskem. A extração de sal-gema, minério utilizado na fabricação de soda cáustica e PVC, tinha autorização do poder público.


Em fevereiro de 2018, surgiram as primeiras grandes rachaduras no bairro do Pinheiro, uma delas com 280 metros de extensão. No mês seguinte, um tremor de magnitude 2,5 agravou as rachaduras e crateras no solo, provocando danos irreversíveis nos imóveis.


Já no início de 2019, o piso de um apartamento no Pinheiro afundou de repente e assustou os moradores. Novos buracos surgiram e a Defesa Civil Municipal precisou evacuar um prédio e interditar uma rua por questões de segurança.


Meses depois, moradores do Mutange e do Bebedouro, bairros vizinhos, também relatarm o surgimento de diversas rachaduras. Em algumas casas, o piso cedeu e as paredes apresentam grandes fissuras.
Em maio de 2019, o Serviço Geológico do Brasil (CPRM), órgão ligado ao governo federal, confirmou que a extração de sal-gema feita pela Braskem provocou a instabilidade no solo.


Só então foram emitidas as primeiras ordens de evacuação para moradores do Pinheiro, Mutange e Bebedouro. Com o problema se agravando, a ordem também foi ampliada para parte do Bom Parto e do Farol.


Foi somente em novembro de 2019 que a Braskem anunciou a decisão de fechar definitivamente poços de extração de sal-gema em Maceió.


A partir dessa decisão, um trabalho foi iniciado pela Braskem para fechamento e estabilização de 35 minas com profundidade média de 886 metros na região do Mutange e de Bebedouro. Segundo especialistas, esse trabalho levaria ao menos 10 anos para estabilizar o solo na região.


Desde então, mais de 14 mil imóveis precisaram ser desocupados, afetando cerca de 60 mil pessoas e transformando áreas antes habitadas em bairros fantasmas.


Um Programa de Compensação Financeira foi criado ainda no final de 2019 pela Braskem para indenizar os proprietários dos imóveis que tiveram que ser desocupados. Os moradores da região que discordavam dos valores oferecidos movem ação na Justiça contra a mineradora.


Em janeiro de 2022, já com grande parte dos bairros afetados desocupados, foi iniciada a demolição de 2 mil imóveis localizados na encosta do Mutange, a primeira etapa de um projeto de demolições em uma área com cerca de 200 mil m².


Após indenizar a maior parte dos proprietários dos imóveis das áreas desocupadas, a Braskem firmou acordo, em janeiro de 2023, para ressarcir a Prefeitura de Maceió em R$ 1,7 bilhão em em razão dos prejuízos causados à capital com o afundamento do solo.


Ao longo do ano de 2023, moradores do Bom Parto que ainda vivem na borda da área de risco realizaram diversos protestos cobrando inclusão no Programa de Compensação Financeira da Braskem, mas a Defesa Civil Municipal afirmava que não havia risco para essas moradias.


Contudo, após 5 tremores de terra somente no mês de novembro, a Defesa Civil de Maceió alertou para o “risco de colapso em uma das minas” próximo da lagoa Mundaú e os moradores do Bom Parto foram obrigados a sair de casa às pressas sob ordem da Justiça Federal, que autorizou até uso da força policial caso as pessoas resistam a deixar o local.


O Hospital Santório, localizado no Pinheiro, transferiu todos os seus pacientes para outras unidades de sáude, mesmo sem ordem para evacuação.


A gravidade da situação levou a Prefeitura de Maceió a decretar situação de emergência, que foi reconhecida pelo governo federal.


Em dezembro de 2023, parte de uma das 35 minas que a empresa mantinha para extração de sal-gema se rompeu sob a lagoa Mundaú, no Mutange, abrindo uma cratera que comporta o mesmo volume de água de 11 piscinas olímpicas. A região segue isolada e sob constante monitoramento.


No dia 17 de janeiro, membros do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) e da Corregedoria Nacional de Justiça chegaram a Maceió para acompanhar o caso Braskem. A comitiva teve reuniões com diversas autoridades, vítimas da mineração, representantes da mineradora e visitou bairros atingidos pelo afundamento do solo.

G1

Postado em 21 de janeiro de 2024

Casos de violência contra jornalistas têm queda de 51% em 2023

A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) divulgará na próxima quinta-feira (25) um relatório completo sobre os casos de violência contra jornalistas e de ataques à liberdade de imprensa no Brasil, em 2023.

De acordo com dados preliminares divulgados pela entidade, os registros de violência contra os profissionais de imprensa no ano passado tiveram queda significativa. Em 2023, foram 181 casos, contra 376 registrados em 2022. A diminuição foi de 51,86%.

No entanto, o número registrado no ano passado foi 34,07% maior em relação aos 135 casos contabilizados em 2018, antes do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Na avaliação da presidente da Fenaj, Samira de Castro, a queda dos episódios de violência contra os profissionais de imprensa em 2023 tem relação com a diminuição das ações de descredibilização da imprensa pelo ex-presidente.

“Podemos comemorar a queda nos números da violência em 2023. Mas temos de continuar em alerta e mobilizados, porque as cifras continuam muito elevadas”, comentou Samira.

O relatório completo dos casos de violência contra jornalistas conterá dados sobre as categorias profissionais, gênero, estado e tipo de mídia.

EBC

Postado em 21 de janeiro de 2024

Governo da Argentina cancela benefícios sociais de mais de 27 mil pessoas

O governo de Javier Milei anunciou neste sábado (20) que cancelou benefícios sociais de mais de 27 mil pessoas por irregularidades em programas relacionados à empregabilidade.
Segundo anunciou o Ministério do Capital Humano, foram detectados 27.208 planos do “Potenciar Trabajo” e 12 planos do “Potenciar Empleo” com “incompatibilidades”.

Houve verificação de todos os titulares dos programas, analisando se cumpriam os requisitos necessários para receberem os benefícios. Ainda de acordo com a pasta, serão economizados mais de 2 bilhões de pesos.

Algumas das incompatibilidades detectadas foram relacionadas a trabalhadores autônomos, residentes no exterior e falecidos.

Mais de 31 mil pessoas perderam benefícios desde o início do novo governo, segundo informou o jornal Lá Nación. Outros 150 mil beneficiários que viajaram ao exterior serão analisados, de acordo com o periódico.

Segundo o governo, o “Potenciar Trabajo” tem como objetivo “contribuir para a melhoria do emprego e a geração de novas propostas produtivas através do desenvolvimento de projetos socioprodutivos, sociocomunitários, sociolaborais e de conclusão educacional”.

CNN

Postado em 21 de janeiro de 2024