Síndrome de Guillain-Barré: o que é e de onde vêm os surtos?

Recentemente, o governo do Peru declarou emergência sanitária devido ao aumento inesperado de casos de Síndrome de Guillain-Barré (SGB). Até o início de julho de 2023, um total de 182 episódios de SGB foram reportados. Destes, 31 pacientes encontraram-se hospitalizados, 147 receberam alta hospitalar e 4 faleceram.

Em 2019, o Peru viveu um grande surto da doença em diferentes partes do país, com mais de 900 casos registrados.

A SGB é uma doença aguda que afeta o sistema nervoso periférico, causando paralisia muscular de progressão rápida e ascendente; isto é, inicia-se nos membros inferiores, de forma simétrica, e pode progredir afetando até os músculos controlados e a deglutição. É a causa mais comum de paralisia flácida no mundo e requer um diagnóstico rápido e tratamento oportuno.

Trata-se de um distúrbio autoimune, ou seja, que se desenvolve através da produção de resistência cruzada contra o próprio tecido nervoso do indivíduo, levando ao quadro de paralisia.

Várias infecções têm sido associadas à SGB, sendo a por Campylobacter (uma bactéria causadora de diarreias) a mais comum, implicada inclusive no atual surto de casos no Peru. Outras doenças que podem causar essa doença incluem zika, dengue , chikungunya , gripe, Covid-19, entre outros.

Muitos outros vírus e bactérias já foram associados temporariamente com o desenvolvimento da SGB, embora, em geral, seja difícil verificar a verdadeira causalidade da doença.

A grande maioria dos pacientes evoluem bem, com cura completa, porém casos mais graves ocorrem e sequelas pós-recuperação podem permanecer.

O diagnóstico é confirmado através de exames específicos e o tratamento é feito com medicamentos que inibem a atividade imunológica ou através de técnicas de filtração do plasma sanguíneo para a remoção de eficácia.

No Brasil, são registrados de 1 a 4 casos da SGB a cada 100 mil pessoas anualmente, segundo dados do Ministério da Saúde . Com uma população de 214 milhões de habitantes, a estimativa é de que pode ter cerca de 535 casos da doença por ano, no país, mas é importante ressaltar que não há riscos, até o momento, de disseminação do surto do Peru para outros países e reforçar que a SGB não é transmissível de pessoa a pessoa.

*Renato Kfouri é médico infectologista, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e pediatra, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP)

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Postado em 13 de julho de 2023