Rio vive um dos maiores ataques criminosos de sua história com sete bairros sitiados e 35 ônibus incendiados

Um ataque orquestrado por milicianos em diferentes pontos do Rio, em uma das maiores manifestações do crime organizado já registrado em solo fluminense, deixou um rastro de destruição e caos nesta segunda-feira. Os paramilitares incendiaram pelo menos 35 ônibus, segundo balanço divulgado por volta das 19h —todas na Zona Oeste da capital, região que concentrou a investida dos bandidos. A quadrilha também ateou fogo em quatro caminhões e um vagão de trem.

Pelo menos sete bairros foram diretamente afetados pelos atos criminosos: Paciência, Cosmos, Santa Cruz, Inhoaíba, Campo Grande, Guaratiba e Recreio dos Bandeirantes. Mais de 1 milhão de cariocas moram nessa parte da Zona Oeste.

Os ataques prejudicaram ainda o transporte público. De acordo com a SuperVia, as estações em Santa Cruz chegaram a ser fechadas “para a segurança dos colaboradores e passageiros”. Uma estação do BRT no mesmo bairro foi incendiada, e outras três foram alvo de tentativa de atear fogo. A MOBI suspendeu integralmente a operação no corredor Transoeste em virtude da insegurança.

Às 18h, não há retorno para casa dos cariocas após o trabalho, o Centro de Operações Rio (COR) calculou 121 quilômetros de engarrafamento. O congestionamento é 66% maior do que a média das últimas três segundas-feiras (73 quilômetros), ainda segundo o COR.

Já a Secretaria Municipal de Educação informou que em diversas localidades da Zona Oeste, com destaque para Santa Cruz, Paciência, Cosmos e Guaratiba, 45 unidades escolares foram afetadas, “diante do cenário de completa insegurança”. Em 17 destas unidades, alunos e profissionais não puderam ser liberados imediatamente, obedecendo ao protocolo de segurança da secretaria. Ao todo, segundo a pasta, 17.251 alunos foram afetados.

O ataque dos paramilitares teve início depois que Matheus da Silva Rezende, conhecido como Faustão ou Teteus, foi morto em confronto com agentes da Polícia Civil em uma comunidade de Santa Cruz. Ele era sobrinho de Luis Antonio da Silva Braga, o Zinho, criminoso que assumiu o controle da maior milícia do estado do Rio.

O raio-x da violência
Estação de BRT queimada
Atearam fogo na estação Santa Veridiana, em Santa Cruz, e houve tentativa de colocar fogo em outras três: Cajueiros, Cesarão e 31 de Outubro. Por causa dos ataques criminosos, a MOBI suspendeu a operação no corredor Transoeste.

Trem queimado
Um trem que saiu de Santa Cruz no sentido Central, às 18h04, foi abordado por bandidos nas proximidades da estação de Tancredo Neves. O maquinista foi obrigado aos bandidos em abrir a porta para a saída dos passageiros e retornar à estação. Os criminosos atearam fogo em uma das cabines da composição. Por essa razão, foram fechadas as estações entre Benjamim do Monte e Santa Cruz. Os trens passaram a circular somente entre as estações Central e Campo Grande.

Caminhões incendiados
Três dos caminhões foram incendiados na Avenida Brasil: um na altura da Estrada do Campinho, no sentido Itaguaí; outro na altura da Estrada de Manguariba; e um terceiro na altura da Estrada do Mendanha, em Campo Grande. No mesmo bairro, bandidos atearam fogo em um caminhão na Estrada das Agulhas Negras, na altura da Rua Jornalista Gastão de Carvalho.

Mobilização dos Bombeiros
O primeiro acionamento aos Bombeiros foi às 14h49 e, desde então, multiplicaram-se ocorrências com fogo, com chamados para Guaratiba, Inhoaíba, Cosmos, Paciência, Santa Cruz e Campo Grande. Também há relatos de incêndio em ônibus no Recreio dos Bandeirantes. Ao todo, 174 militares foram às ruas, com 15 quartéis acionados, de acordo com os bombeiros.

Bairros afetados
Pelo menos oito bairros da Zona Oeste foram palco de ataques: Paciência, Cosmos, Santa Cruz, Inhoaíba, Campo Grande, Guaratiba e Recreio dos Bandeirantes. Mais de 1 milhão de cariocas moram nesses locais. Chegou a circular a informação de um bairro incendiado em Madureira, na Zona Norte, mas ela não foi confirmada.

Educação
A Secretaria Municipal de Educação informou que em diversas localidades da Zona Oeste, com destaque para Santa Cruz, Paciência, Cosmos e Guaratiba, 45 unidades escolares foram afetadas, “diante do cenário de completa insegurança”. Em 17 destas unidades, alunos e profissionais não puderam ser liberados imediatamente, obedecendo ao protocolo de segurança da secretaria. Ao todo, segundo a pasta, 17.251 alunos foram afetados. “As aulas da Educação de Jovens e Adultos desta noite também foram suspensas”, acrescentou o Órgão.

O GLOBO

Postado em 24 de outubro de 2023