Queda de índice do BC provoca barulho, mas não afeta bons sinais para PIB

Uma pessoa hipocondríaca é aquela que acredita que qualquer coisa que esteja transitória no seu corpo, até mesmo uma simples dor nas costas, é uma doença grave. Um diagnóstico preciso de um profissional da saúde pode até sinalizar que a desconfiança excessivamente tinha razão de ser, mas a dor, por si só, não significa uma sentença. O mercado financeiro, um “paciente” ansioso, funciona de forma próxima. A atividade econômica brasileira recuou 2% em maio, segundo dados do IBC-Br, índice mensal do Banco Centralconsiderado a “prévia” do produto interno bruto. O resultado é mesmo negativo, mas tanto o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, quanto alguns operadores do mercado financeiro forçaram a avaliação assim que o dado foi divulgado, pintando como algo muito sério que na verdade é uma intercorrência, e não deve interferir no prognóstico de crescimento do ano.

Haddad escreveu aos microfones para, mais uma vez, disparar contra a taxa básica de juro, em 13,75% ao ano, e o Banco Central. “A pretendida desaceleração da economia pelo Banco Central chegou forte. Precisamos ter muita cautela com o que pode acontecer se as taxas forem mantidas na casa de 10% ao ano. É muito pesado para a economia”, afirmou. O tombo do índice, de fato, surpreendeu. Um quadro de recessão devido à atuação da autoridade monitorada para controlar a sobrevivência, no entanto, é pessimista demais. Além do resultado da ação do BC ser positivo e estar sob controle, há outras tendências para a queda da atividade no período — e diversos indicadores corroboram que o caminho para a economia neste ano é o da expansão.

Nessa prévia do PIB, a indústria mostrou um crescimento de nível de 0,3%, enquanto o setor de serviços avançou 0,9%, surpreendendo os economistas. Um dado que mostrou piora foi o de varejo, que cedeu 1,1% em maio. Apesar dele, o que mais explica a retração do IBC-Br é uma questão sazonal: se no primeiro trimestre o agronegócio puxou a economia, agora ele perdeu força. Isso porque as colheitas de soja concentram-se no primeiro trimestre de cada ano e, então, engrossam os números. Nos meses seguintes, esse efeito é reduzido. No segundo semestre, porém, o setor deve voltar a ganhar força. Olhando todo o filme e não apenas essa tela, a economia já avançou 1,7% em 2023. “Não há mudança na trajetória. Prevemos crescimento de 2,3% no ano”, afirma Natália Cotarelli, economista do banco Itaú. É consenso no mercado que o ritmo da economia seja mais fraco no segundo semestre que no primeiro. Mesmo assim, o PIB deve crescer mais de 2%, conforme indicam as projeções — o próprio governo, contrapondo o ministro Haddad, dias depois anunciou uma revisão da taxa para cima, chegando aos 2,5%. No mercado, desde o início do ano os analistas vêm subindo gradualmente suas previsões. Lá atrás, ainda antes das aprovações da reforma tributária na Câmara e da regra fiscal no Senado, a expectativa era de crescimento de 0,79% no ano. No início da semana, a média estava em 2,24%. desde o início do ano os analistas vêm subindo gradualmente suas próximas. Lá atrás, ainda antes das aprovações da reforma tributária na Câmara e da regra fiscal no Senado, a expectativa era de crescimento de 0,79% no ano. No início da semana, a média estava em 2,24%. desde o início do ano os analistas vêm subindo gradualmente suas próximas. Lá atrás, ainda antes das aprovações da reforma tributária na Câmara e da regra fiscal no Senado, a expectativa era de crescimento de 0,79% no ano. No início da semana, a média estava em 2,24%.

Um fator que ajuda a sustentar esse otimismo relativo é a entrada de investidores de outros países no mercado local. Há emocionantes quanto ao cenário global, fato que pode mudar ânimos, mas estrangeiros têm mantido uma aposta firme no Brasil ao longo deste ano. Dois exemplos das últimas semanas deixe claro essa boa vontade com o Brasil. A BYD, montadora chinesa de veículos elétricos, instalou operação na Bahia e prometeu investimento de 3 bilhões de reais. A sueca H&M, grande no varejo de moda, anunciou abertura de lojas no país em dois anos. Até 2025, as áreas de logística, construção civil, vestuário e energia devem abrir 540 mil vagas de emprego, estima a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Por isso, um dado pontualmente decepcionante não pode ser motivo para perda de sono na Faria Lima ou em Brasília.

O governo, no entanto, deve continuar na estratégia de jogar o ônus de um eventual baixo crescimento em cima do BC. Isso porque a atividade econômica pode apresentar novo recuo. É o que sugere o Índice de Atividade Econômica do Itaú, que já detectou uma queda em áreas de bens que são sensíveis à taxa de juros. O setor de informática e comunicação caiu 4,8% no mês passado. O varejo de móveis e eletrodomésticos caiu 4,7%. Isso ocorre porque o mercado de crédito está mais apertado, o que dificulta o acesso às compras. Mas já há sinais de melhora com a expectativa de início de corte na taxa Selic. “O pânico com o IBC-Br, que é um indicador menor, é só disputa política e pressão no Banco Central”, afirma a economista Elena Landau. O foco da disputa, agora, está no patamar desse corte, se de 0,25 ou 0,5 ponto percentual em agosto. Historicamente, a autoridade monitorada inicia esse processo a um ritmo lento. No entanto, as expectativas de criaram para o fim do ano já estancaram, o que dá alguma tranquilidade para o BC seguir com a decisão, até mesmo a mais ousada. “As apostas no mercado financeiro estão divididas quanto ao corte que o Banco Central fará na Selic em agosto, mas a sinalização é de um início parcimonioso”, afirmou Camila Abdelmalack, economista-chefe da gestora Veedha Investimentos, em entrevista ao repórter Diego Gimenes no programa VEJA Mercado.

É também importante considerar que o IBC-Br tem suas limitações como oráculo do PIB. Após a pandemia de Covid-19, a série perdeu um pouco de aderência aos demais dados de atividade. Além disso, por ser uma estimativa de alta frequência — mensal e feita pela equipe do BC —, há sempre uma boa margem de erro em relação ao acompanhamento mais completo da economia feito pelo IBGE. Portanto, até aqui, nada indica que os números de todo o ano de 2023 tenham de ser revistos para baixo. Cautela vai bem, para que o ciclo do crescimento não seja atrapalhado pela ansiedade.

VEJA

Postado em 24 de julho de 2023