Hipocondria: estudo sueco constata taxa de mortalidade mais alta em pessoas que temem doenças graves

Um estudo sueco descobriu que pessoas diagnosticadas com hipocondria tendem a morrer mais cedo do que aquelas que não apresentam muita preocupação em relação à saúde. Também conhecida como nosomifalia, a condição é caracterizada pela obsessão com a ideia de ter um problema médico grave não diagnosticado.

A pesquisa, publicada na revista JAMA Psychiatry, foi realizada em nível nacional na Suécia, com 4.129 indivíduos diagnosticados com hipocondria e 41.290 indivíduos semelhantes demograficamente sem hipocondria. Os resultados mostraram que os hipocondríacos tiveram um risco aumentado de morte por causas naturais e não naturais, principalmente suicídio.

As taxas gerais de mortalidade foram mais altas nas pessoas com hipocondria (8,5, em comparação aos 5,5 de pessoas sem a condição). Os hipocondríacos morreram mais jovens, com uma idade média de 70 anos. O seu risco de morte por doenças circulatórias e respiratórias foi maior.

“A prevalência da hipocondria na população geral varia de 4,4% a 9,5% e está associada a um impacto substancial na qualidade de vida e no cotidiano. Além disso, a hipocondria está associada a um risco aumentado de comorbidades psiquiátricas, incluindo transtornos depressivos e de ansiedade, síndrome de fadiga crônica e dor crônica”, diz o levantamento.

Níveis altos de ansiedade
Segundo David Mataix-Cols do Instituto Karolinska, na Suécia, que liderou a pesquisa, o estudo preenche “uma lacuna clara na literatura”.

“Tivemos sorte, porque o sistema de classificação sueco para doenças possui um código separado para a hipocondria, permitindo análise de dados de milhares de pessoas ao longo de 24 anos, de 1997 a 2020” explica à Associated Press.

O pesquisador acrescenta que levantamentos antigos sugeriam que o risco de suicídio poderia ser menor para pessoas com a condição, mas, com base na experiência clínica, ele sabia que isso estaria incorreto. No estudo, o risco de morte por suicídio foi quatro vezes maior para as pessoas com o diagnóstico.

“A hipocondria é geralmente considerada um distúrbio crônico, com baixa probabilidade de remissão sem um tratamento adequado. Hipocondríacos têm muitas consultas médicas, que geralmente levam a uma cadeia de testes, muitas vezes, desnecessários sob um ponto de vista profissional e contraproducentes em um psicológico”, detalha o estudo.

Os pesquisadores defendem que, teoricamente, a alta vigilância pode levar a um diagnóstico precoce de doenças sérias e, potencialmente, reduzir o risco de mortalidade. Porém, segundo eles, existem muitas razões para acreditar que este não é o caso.

“Primeiro, alguns indivíduos com hipocondria vivem níveis muito altos de ansiedade, a ponto de evitarem contato com serviços médicos. Isso pode prejudicar a supervisão de condições potencialmente severas. Segundo, ansiedade crônica e depressão, que são características da hipocondria, estão associadas a uma gama de consequências à saúde, como doenças cardiovasculares e morte precoce. Por fim, o suicídio não foi formalmente investigado entre hipocondríacos, mas isso pode contribuir para a taxa de mortalidade do grupo”, conclui a pesquisa.

“É importante levar a sério”
De acordo com o líder do conselho de pesquisa da Associação Psiquiátrica Americana, Jonathan E. Alpert, encaminhar um paciente excessivamente ansioso para profissionais de saúde mental requer cuidado.

” Os pacientes podem se sentir ofendidos, porque sentem que estão sendo acusados de imaginar sintomas. É preciso transmitir aos pacientes uma grande dose de respeito e sensibilidade, dizendo a eles que isso em si é uma espécie de condição, que tem um nome” diz à Associated Press.

Segundo Alpert, muitas pessoas são hipocondríacas leves, mas também há pessoas no outro extremo do espectro, que vivem em um estado perpétuo de preocupação e sofrimento sobre ter uma doença grave.

“Pessoas com o transtorno estão sofrendo. É importante levar isso a sério e, felizmente, existem bons tratamentos” afirma.

A hipocondria é uma condição que, geralmente, se desenvolve durante a vida adulta. Os sintomas incluem medo intenso e prolongado de ter uma doença grave e preocupação de que sintomas pequenos indiquem algo grave. O tratamento pode envolver terapia cognitivo-comportamental, técnicas de relaxamento, educação e, às vezes, medicamentos antidepressivos.

Folha PE

Postado em 19 de dezembro de 2023