Época dos vírus protegidos: crianças são as principais vítimas; saiba como lidar

Com o avanço do outono, vem o pico da temporada dos vírus observados — ou, como mães e pais de crianças dizem por aí, a época em que têm a impressão de gastar mais na farmácia do que no mercado. A constatação está em emergências, clínicas e emergências, que relatam o aumento nesse período de casos de gripes, bronquiolites e pneumonias, entre outros.

Crianças pequenas são os principais alvos, e casos de coinfecção viral têm chamado atenção. A boa notícia é que é possível diminuir as chances de contágio ou a gravidade do quadro com medidas simples, muitas adotadas na pandemia e que deveriam virar rotina.

— Os vírus sobreviveram melhor em ambientes frios e, não à toa, os casos aparecem mais agora, quando caem as temperaturas. Nesta época as pessoas tendem também a ficar mais em ambientes fechados e de menos ventilação. Tudo isso cria vantagem para que os vírus circulem mais — explica a infectologista Rosana Richtmann, do Instituto Emílio Ribas.

As crianças acabam mais expostas por terem menos defesas, consequência de um sistema imunológico menos maduro. Crianças pequenas com irmãos mais velhos são mais temperamentais aos contágios. E ainda como nascidas durante a pandemia que, depois do tempo de isolamento, senti agora o pouco contato anterior com os vírus observados.

O resultado é um aumento de infecção, com relatos de coinfecção viral, que retardam a recuperação. Os médicos destacam ainda alterações na sazonalidade, com casos pipocando desde o início do ano, mas que chegam ao topo agora.

— Há circulação de muitos vírus, como rinovírus, vírus sincicial controlados, metapneumovírus, entre outros. Por isso os cuidados são essenciais — afirma Gustavo Prado, pneumologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

Casos de vírus sincicial (VSR), que podem levar a inflamações agudas dos bronquíolos (a bronquiolite), têm emergências de enchido, além da influenza, cuja adesão à vacinação ainda está aquém do ideal. Outros vírus, como o Coxsachie, que causa a doença mão-pé-boca, também estão em alta, embora este não afete as vias respiratórias.

— Essa circulação de mais de um vírus ao mesmo tempo aumenta as chances de as crianças pegarem uma infecção atrás da outra. É o que dá a impressão aos pais de que o filho está gripado há um mês. Muitas vezes, são tolerantes diferentes — diz Richtmann.

Gripes podem provocar febres abruptas, por exemplo, mas é difícil afirmar qual vírus causa o quadro sem um exame de painel viral, que se popularizou na pandemia. O certo é que as medidas de prevenção coincidem em vírus diferentes e são essenciais para diminuir o risco de contágio e de transmissão a outras crianças.

Algumas delas se fortaleceram durante a pandemia, como higiene frequente das mãos com água e sabão ou álcool em gel, lavagem nasal e ventilação dos ambientes.

— Se uma criança está na escola é mais difícil prevenir o contágio, mas é importante manter a imunidade em dia — diz o pediatra Daniel Becker, colunista do GLOBO. — Isso inclui alimentação saudável, à base de comida de verdade, natural, evitando ao máximo produtos ultraprocessados.

Atividade física e brincadeiras, acrescenta, em especial na natureza, são também uma injeção de imunidade.

— Além da brincadeira e do movimento são fortalecedores de imunidade, a natureza tem fitoquímicos que causaram redução da inflamação no organismo, favorecem o microbioma, tem “vitamina S”(de sujeira) da laminha, da terra, da grama, com bactérias boas que fortalecem a imunidade. Dormir bem e o afeto e a conexão com pais e amigos completam as principais medidas — enumera.

Vacinação em dia também é essencial. As campanhas de imunização para influenza e Covid estão em vigor, e o Ministério da Saúde tem reforçado a importância de recuperar as coberturas, em queda nos últimos anos.

— Doenças sazonais têm impacto importante principalmente em momentos de baixa cobertura vacinal. Temos uma cobertura vacinal baixa para Covid em crianças, e nesta época de outono e de mais circulação de vírus controlados o impacto dessa e outras doenças é maior — diz o pediatra Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) .

Para alguns casos, como o VSR, não há vacina, mas existe uma opção de imunização passiva, com um anticorpo monoclonal, oferecida no SUS em casos de bebês prematuros extremos e cardiopatas menores de dois anos. No caso da gripe, ainda há opção de tratamento com antiviral.

Alerta à piora do quadro

Os médicos recomendam atenção aos sintomas e à possível necessidade de ir ao pronto-socorro.

— É importante observar sinais como desidratação, apatia, febre persistente, recusa alimentar e dificuldade respiratória. Grande parte dos casos não evolui, mas aquelas crianças, e até outras faixas etárias de risco, como idosos e prematuros, com doenças cardíacas, respiratórias, imunológicas, entre outras, podem apresentar piora clínica — diz Bruno Paes Barreto, coordenador do Departamento Científico de Alergia na Infância e Adolescência da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI).

As medidas de prevenção valem ainda para os pais, que eventualmente podem pegar a tolerância dos filhos. Se o pai ou a mãe tiver algum protetor imunológico, como diabetes, asma, ou outra comorbidade, é recomendado ainda usar máscaras enquanto a criança estiver doente.

— E, se possível, não mande para a escola a criança com febre, coriza, espirro — recomenda Becker. — Isso pode ser um problema durante o pico de transmissão. O ideal é esperar passar pelo menos 24 horas sem febre. Mandar para a escola na fase aguda favorecer o contágio e que lá na frente essa infecção retorne para a sua casa.

O GLOBO

Postado em 2 de maio de 2023