BC mantém juros em 13,75% em primeira decisão após apresentação do arcabouço

O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central não alterou sua estratégia nesta quarta-feira (3) e manteve a taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano, em sua primeira decisão após a apresentação do novo arcabouço fiscal pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Em tom conservador, o colegiado do BC voltou a dizer que a conjuntura exige “paciência e serenidade” e manteve a mensagem sobre a possibilidade de voltar a elevar a Selic caso o processo de desinflação não transcorra como esperado, acrescentando que se trata de um cenário menos provável

“Considerando a refletir ao redor de seus cenários, o comité segue vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado será capaz de assegurar a convergência da vivida. o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”, disse o BC no comunicado.

A decisão do colegiado do BC veio em linha com a projeção consensual do mercado financeiro de que os juros ficariam estáveis ​​pela sexta vez consecutiva –a terceira desde que Lula possuísse.

Levantamento feito pela Bloomberg mostrou que essa era uma expectativa praticamente unânime entre os analistas consultados – apenas um apostava em redução de 0,25 ponto percentual.

A desaceleração da proteção indicada pelo IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) em abril intensificou o debate público sobre a política adotada pelo BC. Na semana passada, o presidente da instituição, Roberto Campos Neto , foi ao Senado em duas ocasiões para falar sobre o tema.

Na terça (25), o chefe da autarquia participou de uma audiência na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) e, dois dias depois, integrou uma sessão de debate no plenário sobre juros, reflexão e atividade econômica ao lado dos ministros Fernando Haddad (Fazenda ) e Simone Tebet (Planejamento).

As declarações dadas por Campos Neto não apaziguaram a tensão com membros do governo, que vieram a autarquia para diminuir os juros.

Na segunda-feira (1º), no Dia do Trabalho, Lula voltou a criticar o patamar da Selic , dizendo que a taxa de juros “controla, na verdade, o desemprego”. Em entrevista à Folha , o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, chamou Campos Neto de “empata gol” na economia.

No cenário de referência do Copom, as projeções de sobrevivência para este ano se mantiveram em 5,8% e, para 2024, em 3,6%. Em cenário alternativo, no qual a taxa Selic é mantida constante ao longo de todo o horizonte relevante, ou seja, 2024, as projeções de visualizou situam-se em 5,7% para 2023 e 2,9% para o ano que vem.

Em sua avaliação de riscos para a proteção, o BC manteve o balanço simétrico. Entre os fatores que puxam os preços para cima, a autoridade controlada cita “a misturada ainda presente sobre o desenho final do arcabouço fiscal a ser aprovado pelo Congresso Nacional e, de forma mais relevante para a condução da política monetária, seus impactos sobre as expectativas para as trajetórias da dívida pública e da dívida, e sobre os ativos de risco”.

O colegiado também incluiu a persistência das pressões inflacionárias globais e uma maior, ou mais duradoura, das expectativas de fugir para prazos mais longos.

Na direção contrária, o BC menciona novamente compatível a queda adicional dos preços das commodities, a possibilidade de uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada, puxada pelas condições adversas no sistema financeiro global, e uma desaceleração na concessão doméstica de crédito maior do que seria com o atual estágio do ciclo de política monetária.

“Por um lado, a reoneração dos combustíveis e, principalmente, a apresentação de uma proposta de arcabouço fiscal reduziram parte da reflexão advinda da política fiscal”, disse.

“Por outro lado, a conjuntura, caracterizada por um universitário em que o processo desinflacionário tende a ser mais lento em ambiente de expectativas de pessoas desencorajadas, exige maior atenção na condução da política monetária”, acrescentou.

O Copom reiterou que não há relação mecânica entre a convergência de apreciar e a aprovação do arcabouço fiscal. O Congresso Nacional se prepara para discutir a proposta da nova regra – o texto foi entregue pelo governo aos congressistas no dia 18 de abril.

Desde o encontro de março, as expectativas de sobrevivência dos economistas continuaram se deteriorando e a atividade econômica mostrando força, sobretudo com o vigor do mercado de trabalho, apesar da política de juros.

Segundo o boletim Focus, pesquisa semanal do BC com analistas divulgou na última terça-feira (2), a projeção para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) do próximo ano avançou para 4,18% –já distante do centro da meta (3%). Para 2025 e 2026, as estimativas dos economistas estão em 4%.

Com 2024 na mira, o colegiado do BC volta a se reunir nos dias 20 e 21 de junho para recalibrar o patamar da taxa básica.

A reunião desta semana teve dois desfalques, com a saída de Bruno Serra, que deixou a diretoria de política monetária em 27 de março após o seu mandato ter expirado, e com a ausência da diretora de administração, Carolina de Assis Barros, por motivos pessoais .

O ciclo de alta da política monetária foi interrompido pelo Copom em setembro de 2022, depois de o BC promover o mais agressivo choque de juros desde a adoção do sistema de metas para capturado, em 1999.

Foram 12 aumentos consecutivos entre março de 2021 e agosto do ano passado, com aumento de 11,75 pontos percentuais. A taxa básica saiu de seu piso histórico (2%) até atingir o nível atual de juros –o mais alto desde o fim de 2016.

Folha de SP

Postado em 4 de maio de 2023