Argentina: pequeno empresário conta que fornecedores suspenderam entregas

Os preços dos produtos da cesta básica, como leite, pão, óleo e tomates, aumentaram de 40% a 50% na Argentina desde o anúncio da eleição do novo presidente, Javier Milei, no último domingo. O valor pago por verduras e carnes chegou a dobrar. E mesmo assim, ainda faltam produtos nas prateleiras como arroz, açúcar e biscoitos.
Aos 65 anos, Rafael Berritela, um pequeno empresário argentino, conta que sua última lembrança de calmaria na economia o remete ao início dos anos 2000, no primeiro governo de Néstor Kirchner.

-Com Cristina câmbio ainda estava aceitável, tudo se complicou com Macri, mas a situação atual é a pior. E não dá para ser otimista com a eleição de Milei. Acho que vamos precisar voltar às ruas.

O agravamento do cotidiano não se restringe ao orçamento familiar. Berritela diz que os fornecedores da sua pequena distribuidora de produtos pneumáticos suspenderam as vendas à espera do que está por vir. A única possibilidade de negócio, lhe disse um dos fornecedores, é se estiver disposto a negociar com dinheiro vivo, dólar claro. E na cotação do paralelo, o blue, que é mais do que o dobro da taxa de câmbio oficial.

-Até Milei assumir será assim. Depois vai ficar pior – avalia Berritela.

De fato, nesta quarta-feira, o presidente eleito já admitiu que precisará de 18 a 24 meses para começar a cortar a inflação. O que é bastante assustador se lembrarmos que a taxa anual na Argentina já ultrapassa os 140% ao ano.

Para quem viveu os anos de 1980 e de 1990 no Brasil a impressão é de ver um filme na reprise. Preços trocados nas prateleiras minuto a minuto, estoques de comida nos armários de casa, proprietários de imóveis preferindo deixá-los fechados do que alugá-los, a desvalorização do dinheiro no dia a dia.

E se para os brasileiros está barato fazer turismo na Argentina, Berritela conta que para sua família sai mais barato passar uns dias no Nordeste do que na costa do país. Ele e a mulher estiveram em Maceió, entre 11 de 18 novembro. Sem reais nas mãos, ele não conseguiu trocar dólar pela moeda brasileira antes de embarcar, o pequeno empresário acostumado com o pagamento na moeda estrangeira aceito de cabo a rabo em Buenos Aires ficou encrencado.

-Não tínhamos reais, apenas dólar e nem o taxista aceitou.

O GLOBO

Postado em 23 de novembro de 2023